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Pratyahara – Uma Jornada Interior

  • Foto do escritor: Rosane Abude
    Rosane Abude
  • 13 de fev. de 2024
  • 4 min de leitura

Pratyahara é uma técnica do Yoga pouco conhecida por muitas pessoas, inclusive por praticantes experientes. E segundo Dr. Sharadchandra Bhalegas, no seu livro Pranayama, Mudras e Meditação, esse é o motivo pelo qual a maioria não avança significativamente. E esse avançar não tem nada a ver com a dificuldade ou complexidade dos exercícios físicos ou respiratórios e sim com a nossa capacidade de se desligar do mundo exterior e se voltar para dentro de si mesmo.


Infelizmente, no Yoga moderno muitos professores dão mais ênfase ao físico e, às vezes, por falta de uma compreensão do objetivo verdadeiro do Yoga, dão pouca atenção ao treinamento da mente para que ela possa atingir níveis cada vez mais profundos.


No Yoga de Patanjali, Pratyahara é um anga ou parte componente do Yoga, apresentado depois do Pranayama (exercício respiratório).



Pratyahara significa controle dos desejos ou abstração dos sentidos. É como se os sentidos imitassem a mente, retirando-se dos objetos exteriores, voltando-se completamente para dentro. Interessante saber que de acordo com muitas tradições indianas, a mente é um órgão de sentido, ou seja, a mente é mais um dos sentidos que temos, segundo Surendranath Dasgupta.


Vou tentar explicar isso melhor, resumindo o entendimento de I.K. Taimni, autor do livro A Ciência do Yoga.


Percebemos um objeto, som, luz, temperatura, umidade, cheiro, gosto e sensações através dos nossos órgãos dos sentidos: visão, audição, tato, olfato e paladar. Nesse momento a mente liga-se a estes órgãos dos sentidos e tomamos consciência dessas informações.


Por exemplo, sentimos o cheiro de um perfume e a nossa mente toma consciência e identifica de onde vem, que tipo de cheiro que chega aos nossos sentidos e, muitas vezes, remete-nos a memórias passadas.


Do ponto de vista fisiológico e psicológico, há muitos estágios intermediários entre a recepção do que vimos e sentimos pelos órgãos dos sentidos e a percepção pela mente. Se a atenção não está ligada a esse órgão do sentido, tudo se mantém despercebido.


Por exemplo: o relógio da sala funciona o tempo todo, mas raramente ouvimos o seu tic-tac. Embora as vibrações sonoras cheguem constantemente aos ouvidos, a mente consciente está desligada do órgão da audição.


Inúmeras informações chegam constantemente aos nossos órgãos dos sentidos, mas em sua maioria permanecem despercebidas à nossa consciência dada a falta de contato entre a mente e os órgãos dos sentidos. No entanto, algumas poucas informações sempre conseguem chamar a atenção e a mente, geralmente, torna-se indefesa em relação à estas percepções indesejáveis.


Quantas vezes tentamos nos desligar dos ruídos do bate-bate de uma construção ou da música alta do vizinho e não conseguimos?


Entretanto, para a prática de meditação profunda, o mundo exterior tem que ser completamente excluído, a fim de que o Yogui possa trabalhar em minimizar ou cessar as flutuações da mente, que ficam entre as memórias de experiências passadas e expectativas vinculadas ao futuro.


O objetivo do Pratyahara, segundo Taimni, é eliminar por completo da mente as informações que vem do mundo externo, desligando a mente conscientemente dos órgãos dos sentidos, deixando apenas as memórias e as expectativas futuras para serem dominadas pelas técnicas de Dharana e Dhyana, concentração e meditação, respectivamente.


Nós conhecemos essa sensação similar ao Pratyahara, quando estamos dormindo. A mente se desliga inconscientemente do mundo externo. Outro exemplo, é quando estamos lendo um livro empolgante e não ouvimos a campainha da casa tocar ou alguém nos chamar. Porém no Pratyahara nos desligamos conscientemente, voltando os nossos sentidos para o objeto ou sensações que estão da pele para dentro.


Não é à toa que existe uma ordem das técnicas do Yoga de Patanjali.


As primeiras etapas são os Yamas e Nyamas, as quais podemos chamar de valores ou princípios do Yoga. Sem a prática cuidadosa e diária dos valores do Yoga e dos nossos próprios valores não se pode atingir Pratyahara, porque todas as perturbações emocionais derivadas do conflito entre esses valores e o nosso real comportamento nos impede de ir mais profundo na meditação.


Assim como as técnicas dos Asanas (exercícios físicos) e dos Pranayamas (exercícios respiratórios) não estiverem sob domínio e o corpo físico não tiver sido inteiramente controlado, por certo a prática do Pratyahara será dificultada.


Nada do que fazemos no Yoga é por acaso, inventado ou sem propósito. Tudo que fazemos é baseado nos textos tradicionais do Yoga, que é resultado prático de milhares e milhares de anos de auto-observação dos grandes Yoguis.


Nada do que fazemos no Yoga tem a intenção de permanecer somente no tapetinho. Para que possamos entender melhor os problemas ou desafios de forma mais precisa e imparcial, para que possamos lidar com eles com sabedoria e discernimento e para que possamos ter uma vida saudável e harmoniosa, é preciso que tenhamos um momento de profunda reflexão, afastando-nos dos “ruídos”, avaliando cuidadosamente com a lógica e as sensações que vêm de dentro de nós.


Quantas vezes acordamos no outro dia com muita mais clareza do que precisamos fazer para enfrentar uma situação difícil? Quantas vezes depois de nos acalmarmos ou depois de uma boa meditação, achamos a solução do problema ou tamanho dele diminui bastante?


Lembro sempre do meu terceiro ano colegial. Nosso querido professor Antônio Jorge passava como “diversão” do final de semana, muitos problemas de matemática para serem resolvidos até a segunda-feira.  E alguns deles eu só descobria a solução durante o sono ou quando acordava.


É claro que isso não é Pratyahara, mas é um processo mental parecido.


O relaxamento é a uma das técnicas mais potentes para alcançarmos o estado de Pratyahara em uma aula de Yoga, a depender de como seja conduzido pelo professor. O relaxamento na postura deitada, quando praticado de forma correta, acalma o sistema nervoso e nos leva a estados de consciência muito profundos, ajudando a direcionar os sentidos para dentro.


Gostou de saber mais sobre o Pratyahara? Agora faz mais sentido para você o porquê o Hatha Yoga é uma prática mais contemplativa?

 

Fontes:

1.      Pranayama, Mudra e Meditação – Dr. Sharadchandra Bhalekar

2.      A Ciência do Yoga – I.K. Taimni

3.      A Essência do Hatha Yoga – Alicia Souto


 


O Hatha Yoga é uma prática contemplativa que induz o praticante a um estado de profunda conexão consigo.


Venha sentir os benefícios dessa prática milenar que vem conquistando cada vez mais pessoas no mundo.


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