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O Yoga e a Saúde Mental

Foto do escritor: Rosane AbudeRosane Abude


Para que possamos ter uma noção do enorme problema social que as doenças mentais causam, primeiro vou apresentar algumas estatísticas, depois trago o que o Yoga ensina sobre saúde mental e, finalmente, conto sobre a minha experiência com uma crise aguda grave de ansiedade e pânico, que tive o ano passado na Índia.


Segundo a OMS, a doença mental é um grupo de condições de transtornos e deficiências psicossociais, bem como outros estados mentais associados a um alto grau de sofrimento, incapacidade funcional ou risco de comportamento autolesivo.


Números no Mundo

  • Em 2019, quase um bilhão de pessoas, viviam com um transtorno mental, incluindo 14% dos adolescentes.

  • O suicídio foi responsável por mais de 1 em cada 100 mortes.

  • Pessoas com condições graves de saúde mental morrem em média 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral, principalmente, devido a doenças físicas evitáveis.

  • A depressão é a terceira causa de doença (primeira nos países desenvolvidos), estando previsto que passem a ser a primeira causa em 2030, com agravamento provável das taxas de suicídio.

  • Metade das principais causas de incapacidade e de dependência psicossocial são doenças neuropsiquiátricas: depressão (11,8%), problemas ligados ao álcool (3,3%), esquizofrenia (2,8%), perturbação bipolar (2,4%) e demência (1,6%) e uma das principais causas de mortalidade nas sociedades.

  • Apenas 25% dos doentes com perturbações mentais recebe tratamento e só 10% têm tratamento considerado adequado.


Números em Portugal

  • Mais de 20% dos portugueses sofre de uma perturbação psiquiátrica

  • É o segundo país com mais doenças psiquiátricas da Europa, ultrapassado pela Irlanda do Norte.

  • As perturbações de ansiedade são as que apresentam uma prevalência mais elevada (16,5%), seguidas pelas perturbações do humor, de 7,9%.

  • As perturbações mentais e do comportamento representam 11,8% das doenças, mais do que as doenças oncológicas (10,4%) e apenas ultrapassadas pelas doenças cérebro-cardiovasculares (13,7%).


Números no Brasil

  • A taxa de transtornos mentais teve um crescimento anual de 12% a 15% nos últimos quatro anos em atendimentos, segundo a consultoria Alvarez & Marsal.

  • Tem o terceiro pior índice de saúde mental do mundo, conforme o relatório global anual “Estado Mental do Mundo 2022”.

  • A taxa de suicídios subiu mais de 50% nos últimos 20 anos.

  • No primeiro semestre de 2023, em comparação com o mesmo período de 2022, houve um aumento de 37% na aquisição de antidepressivos, segundo a Vidalink.


O que diz o Yoga sobre a saúde mental? E como nós, professores de Yoga, podemos ajudar?


Segundo o Swami Kuvalayananda e Dr. S.L. Vinekar, um dos principais significados do Yoga é harmonia e integração, no seu nível mais elevado. Por isso o Yoga é uma filosofia de vida, que considera o ser humano como um todo, sem dividi-lo em compartimentos estanques, tais como: corpo, mente e espírito. E eles continuam: doenças, sejam elas da mente e/ou do corpo, são exemplos de desintegração e desarmonia.


Portanto, considera-se o fortalecimento do corpo e da mente fundamental para produzir um comportamento equilibrado e levar a uma personalidade estável, afirmam o Swami e o Dr. Vinekar.


O objetivo do Yoga é elevar o nível de saúde e sensação de bem-estar ao patamar mais elevado possível. Para alcançar isso, determinados princípios são estabelecidos quanto à dieta, à vivência dos valores, cultivo de uma atitude positiva, útil e saudável, com relação ao entorno e, por último, exercícios psicofísicos para condicionar o corpo e a mente, que são as várias técnicas utilizadas nas aulas de Yoga.


Portanto, o Yoga é uma prática integral, preventiva e curativa, que educa o praticante a ter um modo de vida que conduza à organização de sua personalidade psicossomática, de modo a desenvolver em seu interior a capacidade de resistir a uma gama considerável de variações ambientais. O praticante aprende a resistir a estímulos desafiadores de maneira mais resiliente, evitando perturbação funcional ou alteração patológica imediata e elevada.


A minha história de superação


Para ilustrar que este problema pode acontecer com qualquer um, inclusive com aquelas pessoas que nunca apresentaram nenhum sintoma psicossomático em toda a sua vida, vou contar o que aconteceu comigo o ano passado, quando estive na Índia para fazer uma especialização em Yogaterapia. O curso começava em uma época do ano de chuvas muito intensas, das monções.


É de conhecimento de todos que a Índia tem um padrão de higiene e organização bem diferente do nosso. Em função da sujeira e do mofo nas paredes do quarto, nos lençóis e colchão, eu tive uma enxaqueca muito forte e falta de ar. Junto a estes sintomas, sofri uma crise violenta de ansiedade e pânico que nunca experimentei na minha vida. Eu achava que iria morrer e/ou ficar presa naquele país pelo resto da minha vida. Sim, um pensamento muito louco. Segundo minha psicóloga, algum ou alguns gatilhos fortes deram início a esta crise.


Nessa época, eu já tinha 23 anos de prática de Yoga, um longo período de treinamento. A pergunta que fica no ar é: como uma pessoa com esta bagagem e também com um longo caminho de busca de autoconhecimento e sendo professora de Yoga, pôde entrar em uma crise psicológica tão severa?


Resposta simples, a maioria de nós não é perfeito e muito menos chegamos ao estado de iluminação, que nos faça imunes às intempéries da vida. Muito menos eu. A maioria de nós ainda está no caminho.


A pergunta correta é: como eu lidei com este problema?


Primeiro ponto, eu considero que foi o treinamento do Yoga e todo conhecimento adquirido sobre mim mesma que me fez ter consciência da crise pela qual eu estava passando.


Consciência aqui é uma palavra-chave, pois muitos vivem a vida toda com uma doença mental e nem se percebem ou demoram ou não querem se perceber.


Foi um processo interessante, porque parecia que a minha consciência era de outra pessoa observando o sofrimento do meu corpo e da mente e entendendo, de forma racional, o que estava se passando comigo. O tempo todo a minha consciência fazia o contraponto aos pensamentos extremamente negativos que a minha mente criava, em função da crise de ansiedade e pânico.


Segundo ponto, eu pedi ajuda. Compartilhei com familiares e amigos mais próximos o que estava acontecendo comigo. Muitos sofrem sozinhos por se envergonharem do que estão sentindo, agravando ainda mais a doença.


E finalmente, mesmo em estado de grande sofrimento, eu tinha força para sair da cama e do quarto para praticar todas as aulas de Yoga e, ainda, participar dos tratamentos Ayurvédico e naturopata, oferecidos pelo Instituto. Porque eu sabia que precisava fazer algo para superar a crise e ter forças para negociar a minha desistência do curso e me organizar para ir embora da Índia. É uma doença que precisamos lutar a cada segundo para que ela não nos vença.


Foi incrível perceber a minha inquietude corporal e mental no início das práticas. Os professores me chamavam atenção o tempo todo, mas era algo muito mais forte do que eu. Nas práticas de Yoga Nidra (técnica de relaxamento profundo) era impossível ficar quieta na postura deitada. A única postura que eu conseguia me manter quieta era a postura da criança ou do feto. Outro aspecto interessante e não sei explicar o porquê, no final da prática, a vontade de continuar meditando era imensa e meditava por um bom tempo a mais. É como eu digo sempre aos meus alunos, meditação longa e profunda é como colo de mãe, não temos vontade de sair. Mesmo sozinha na sala, eu me sentia extremamente protegida em meditação. E os tratamentos foram fundamentais para eu me sentir acarinhada e cuidada pelo outro.


Após 3 semanas, fui embora da Índia em direção à Nova Zelândia para visitar meu filho. Fiquei curada em menos de uma semana, sentindo o meu corpo e a minha mente em equilíbrio e harmonia de novo. É claro que procurei minha psicóloga para entender mais profundamente tudo o que aconteceu. E isso fechou com final feliz essa história de terror e algumas outras.


Foram as 3 piores e “melhores” semanas da minha vida, semanas de aprendizado e experiência que me serviram para eu me entender melhor, entender melhor o outro e ter mais compaixão por aqueles que sofrem dessa terrível doença e não tem forças e nem ferramentas para sair dela. E serviram também para eu fortalecer ainda mais a minha convicção de que o Yoga é um dos melhores caminhos para conquistarmos uma saúde física e mental e ficarmos livres do sofrimento.


É impossível ser professor de Yoga sem viver o Yoga de forma integral. O nosso exemplo e a nossa história são os maiores legados aos nossos alunos. E tentar evitar que essa tragédia das doenças mentais continue afetando bilhões de pessoas no mundo.

 

Fontes:

1.     Relatório da OMS

2.     Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental

3.     Saúde Business

4.     Livro Yogaterapia - Swami Kuvalayananda e Dr. S.L. Vinekar


 

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