O que é Yoga?

Autoras: Rosane Abude e Marcia Traldi

Yoga é uma filosofia de vida, que nasceu nos territórios da Índia há milhares de anos. Era ensinada diretamente do mestre para o seu discípulo, visando cuidar do corpo, aquietar a mente, promover a integração entre estas duas esferas, produzindo condições favoráveis à auto-observação, ao autoconhecimento e, consequentemente, aos processos de transformação.

Com a crescente globalização do mundo, o Yoga foi se popularizando, sendo disseminado em diversos países do ocidente e se tornando, em algumas escolas, descaracterizado do Yoga tradicional, baseados no textos védicos, no Hatha Pratipika, Gheranda Samhita, Hhata Yoga de Patanjali, entre outros, focando muito mais em posturas e nos aspectos físicos.

A palavra Yoga em sânscrito significa união, integração.

A palavra união pode ser compreendida de forma abrangente, como:

✔ União cosigo mesmo.

Quem eu sou? Qual o meu propósito? O que devo fazer para alcançá-lo? Como as minhas atitudes harmonizam o meu corpo, minha mente e as minhas emoções?

✔ União com o outro.

Como me relaciono com as pessoas? O que devo fazer para harmonizar e crescer nas e a partir das relações? Quais os valores que eu escolho viver para que eu possa funcionar de modo favorável ao bem comum?

✔ União com o meio ambiente.

Qual o impacto das minhas atitudes no meio ambiente? Como viver para promover a minha vida e a dos outros seres vivos?

✔ União com o divino ou vivência da espiritualidade.

Como posso perceber minha existência para além da pessoalidade de um eu? Como observo minha vida conectada e sustentada (interdependente ) por outras forças extrínsecas ao meu corpo, por outras vidas?

Estes aspectos são parte de um caminho de busca que vai ganhando aprofundamento à medida que existe persistência na prática e abertura ao processo autoexploratório e de autoconhecimento da própria existência.

Segundo a pesquisadora, Lilian Cristina Gulmini, no livro, Estudos sobre o Yoga: “O objetivo do Yoga é único: a evolução integral do homem e o alcance de níveis superiores de consciência, culminando em um estado de absoluta liberdade e felicidade. Estes níveis incluem a saúde e harmonia do corpo físico, o discernimento e o controle emocional, a conduta social adequada e benéfica aos que compartilham da sua companhia, a eficiência na execução de suas tarefas diárias, o aumento da força de vontade e da capacidade de realização, a melhora no desempenho intelectual com o treino da atenção e concentração, o aumento da fé e devoção religiosa (seja qual for sua religião) e, finalmente, tudo isso sob a aura de uma profunda paz, alegria e amor imensos, sentidos nos momentos de meditação”.

Para Patanjali, grande filósofo indiano, que viveu no século VI a.c. e foi o primeiro sistematizador dos conhecimentos produzidos e transmitidos ao longo de muitos anos sobre Yoga, o propósito da prática é a inibição das modificações da mente. 1

Ele propôs que este objetivo último fosse obtido através de um caminho de 8 passos: 2

1. Yamas

Valores que nos guiarão a ter uma relação harmoniosa com o mundo

2. Nyamas

Valores que nos guiarão a ter uma relação harmoniosa com nós mesmos

3. Asanas

Exercícios posturais que preparam o nosso corpo e a mente para alcançar um estado de quietude prazerosa, preparando-nos para as próximas passos.

4. Pranayamas

Exercícios respiratórios que diminuem o ritmo da respiração, levando-nos a um estado de maior harmonização do corpo e tranquilidade mental.

5. Pratyahara

Técnica que ajuda o praticante a abstrair-se dos sentidos, ou seja, desligar a mente dos órgãos dos sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato, diminuindo as distrações e interferências decorrentes dos estímulos externos.

6. Dharana

Técnicas de concentração que colocam a mente em seu completo controle. Não é uma concentração comum conhecida por todos nós. Através desta forma de concentração a mente torna-se una com a natureza essencial do objeto de concentração, não podendo, assim, mover-se mais.

7. Dhyana

Não é uma técnica, mas sim, um estado meditativo ou contemplativo a ser alcançado a partir das técnicas anteriores. É quando o praticante consegue eliminar por completo as distrações e pode continuar em concentração no objeto, sem quaisquer interrupções, pelo tempo que quiser.

8. Samadhi

O mesmo estado meditativo ou contemplativo, a diferença é o desaparecimento da separatividade na percepção entre eu-objeto e a vivência da integração e interconexão de si com todos os fenômenos.

Como o Yoga pode contribuir para a nossa saúde físicia, mental e espiritual?

A adesão à prática do Yoga vem aumentando muito nos últimos anos, atraindo o interesse da ciência de modo crescente. Cada vez mais estudos são produzidos atestando seu potencial como facilitador do desenvolvimento de competências positivas, promoção de saúde e bem-estar na vida dos praticantes.

Com base no reconhecimento destes seus atributos, em 2017 o Yoga passou a figurar no quadro das Práticas Integrativas e Complementares (PICs) da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) do SUS.

A sua utilização também é aconselhada pelos sistemas nacionais de saúde em todos os países membros da Organização Mundial da Saúde (OMS).

“De uma maneira geral, trata-se de um excelente auxiliar para o alcance de um proveitoso estado de relaxamento, melhora da qualidade do sono, exercício de uma atitude mais positiva diante dos desafios do dia a dia, cultivo da vida interior e finalmente o desenvolvimento de aspectos mais elevados e latentes da natureza humana. Todos esses pontos contribuem para uma melhor qualidade de vida.” “As técnicas de relaxamento melhoram e regulam todos os sistemas, além de colocar a mente disposta à autorreflexão.” 3

Os pesquisadores Siegel e Barros levantaram as referências bibliográficas publicadas no Medline-Pubmed usando a palavra-chave “yoga”. A primeira pesquisa abrangeu o período de 1999 a 2004 . Nestes cinco anos foram encontrados 144 artigos, distribuídos em diferentes categorias de publicação, como carta, editorial, revisões etc. Do total de artigos, 70% consideraram o Yoga como uma ferramenta útil para a saúde, com destaque para o cuidado de pessoas com doenças cardíacas, estresse, asma e com necessidade de cuidados paliativos. A segunda busca no Medline-Pubmed cobriu o período de 2005 a 2007. No total, foram encontrados 99 novos estudos e em 74 deles (74,74%) o Yoga é considerado benéfico e/ou promissor como técnica para aliviar dor e o estresse, aumentar a autoestima, favorecer o autocuidado, a promoção da saúde, a qualidade de vida e a cura. 4

Segundo os levantamentos de dados dos referidos pesquisadores, os principais benefícios do Yoga observados para o campo da saúde são:

a. Contribuições físicas:

O encorajamento de dietas mais saudáveis e a consciência corporal, especialmente para o envelhecimento e as doenças crônicas;

b. Contribuições filosóficas:

Desenvolvimento da capacidade contemplativa e expansão da percepção da totalidade, que constituem a base do movimento holístico ou a noção do cuidado integral (dimensões biológica, psicológica, sociológica e espiritual);

c. Contribuições sociais associadas à construção de uma nova sociabilidade:

▪ Desenvolvimento de cultura de paz e estilos de vida e valores que promovem uma maior empatia e tolerância entre grupos étnicos, gêneros e classes sociais;

▪ Reeducação de hábitos associados com os vícios legais (medicação, alimento, álcool, tabaco, trabalho, sexo, etc.) e ilegais (drogas ilícitas, jogos, etc.).

Ainda segundo o estudo destes pesquisadores , o Yoga fomenta o autoconhecimento, autocuidado, paz, autonomia e o sentimento de pertencimento, além da ampliação da capacidade de lidar com o estresse, ansiedade e depressão, gerando um protagonismo no processo de produção de bem-estar.

Tendo como base estes dados, evidencia-se a relação da filosofia do Yoga com a promoção da saúde e seu grande potencial de contribuir à oferta de ações de cuidado em condições crônicas (relacionadas tanto à fatores físicos, quanto à fatores psíquicos) para as quais, o uso exclusivo de recursos advindos do modelo de cuidado biomédico têm alcançado resultados insuficientes.

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Referências Bibliográficas

(1) A Essência do Yoga – Alicia Souto

(2) A Ciência do Yoga – L.K. Taimni

(3) SILVA, C. P. M.; ROSADO, A. F. B. Efeitos psicossociais da prática de |Yoga: uma revisão sistemática. Revista Iberoamericana de Psicología del Ejercicio y el Deporte, 2017;12(2):203-216.

(4) Siegel P, Barros NF. Yoga e Saúde: o desafio da introdução de uma prática não-convencional no SUS [tese]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2010; MINISTÉRIO DA SAÚDE. ​Portaria n. 971, de 03 de maio de 2006​. Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. 2006. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt0971_03_05_2006.html>. Acesso em 05 set. 2019; MINISTÉRIO DA SAÚDE. ​Portaria n. 849, de 27 de março de 2017​. Inclui a Arteterapia, Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrati e Yoga à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares. 2017. Disponível em: <http://www.lex.com.br/legis_27357131_PORTARIA_N_849_DE_27_DE_MARCO_DE_20 17.aspx>. Acesso em 05 set. 2019.