Na Índia descobri que, assim como na religião cristã, Deus é representado por uma trindade: Brahma, criador do universo e inteligência criadora, Vishnu, responsável pela sustentação, proteção e manutenção do universo e Shiva, o transformador e destruidor da ilusão.
Eu me apaixonei por Shiva à primeira vista. Aquele ser lindo, meditando em cima de um tigre morto, passava uma força inimaginável e, ao mesmo tempo, uma paz que hipnotizava só de olhar. Mais encantada fiquei, depois que soube o poder de Deus que ele representa.
Acredito que o meu encantamento veio, primeiramente, de forma intuitiva e em seguida por
saber que existe um poder divino que nos ajuda a destruir o ego e a ilusão que somos apenas matéria.
Vivemos incontáveis dramas em nossas vidas. Muito deles atribuo à competição entre os
homens, advinda do nosso próprio medo e insegurança. Seja na vida profissional, amorosa e, até mesmo, espiritual.
A maioria de nós está sempre preocupado em ser o melhor, o mais querido, o mais próspero, o mais bonito, ou seja, sempre correndo atrás de mostrar aos outros o quanto somos “o/a cara”.
Só para dar um exemplo bem atual, as redes sociais potencializaram muito esse tipo de atitude. Basta receber vários “Curti” e a pessoa se sente uma celebridade. Expõe as suas conquistas, seus amores, suas viagens e festas, seus bens, seu tudo praticamente. Quanto vale um “Curti”? O quanto isso nos mantém sob os poderes do ego?
Tudo isso considero “normal”, ou melhor, frequente. Jogue a primeira pedra, quem de nós não já caiu nessa armadilha? Quantas vezes sentimos ciúmes, inveja, ansiedade, perda de controle, raiva e desprezo, porque alguém ou alguma situação feriu diretamente o nosso ego e nos mostrou quem realmente somos?
É claro que é positivo conhecer e se alegrar com as nossas qualidades. O problema é
dependermos dos elogios, é vincular a nossa felicidade diretamente a quantidade de curtidas que recebemos. O problema é que, em vez de competirmos com nós mesmos, competimos com os outros. Em vez de olharmos para dentro de nós para conhecer as nossas fraquezas e trabalharmos nela, nós nos comparamos com os outros e dizemos: “mas todo mundo faz isso”, “o sistema é assim”, “eu sou melhor do que ele”, “eu não fiz isso, você é que está entendo errado” ou pior “eu nasci assim e não posso mudar.”
Quantas vezes negamos o que está na cara dos outros? Quantas vezes somos resistentes a
feedbacks dos nossos queridos?
Negamos, porque é difícil pra cachorro olhar os nossos defeitos no espelho. Negamos, porque às vezes é muito mais fácil vivermos em uma realidade virtual ou de sonhos do que encarar a realidade crua e nua da vida. Os indianos chamam essa armadilha de Maya.
Eu ainda não conheço outra forma de nos tornar seres melhores do que encarar o “bicho” de frente, do que olhar para dentro com coração aberto e analisar as nossas atitudes. A meditação e o poder de Shiva ajudam muito nesse processo.
Bom, os dramas humanos são criados por nós. Nem os iluminados estão livres deles. O que nos diferencia e nos eleva é como percebemos a nós mesmos e ao outro e como atuamos nesses dramas.
Autora: Rosane Abude
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